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Lina Bo Bardi

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Ao aprovar um trabalho de conclusão de curso de Arquitetura – uma maternidade com estrutura em concreto armado e vidro aparente – o diretor Marcello Piacentido ressalvou que sua aluna era uma bela mulher e que provavelmente não exerceria a profissão. A jovem de 25 anos em questão se chamava Archillina Bo e se tornou a arquiteta mais importante do século 20 no Brasil.

O centenário do nascimento da italiana Lina Bo Bardi em 2014 foi marcado por quatro exposições, um livro e um filme. O reconhecimento atual difere do que teve em vida. Ela enfrentou uma série de dificuldades por ser mulher e estrangeira numa época de machismo e nacionalismo. Passou anos no ostracismo na Itália e não deixou mais de dez obras construídas no Brasil, todas ícones do modernismo. Teve forte produção em diferentes áreas, foi também designer e curadora.

Após se formar na Universidade de Roma, seu primeiro emprego foi em Milão, em um escritório de estilo moderno. Entretanto, declarada a Segunda Guerra Mundial, todos os projetos, e expectativas para o futuro, foram interrompidos. Ela chegou a abrir o próprio negócio, mas sofreu um bombardeio em 1943. Teve de se adaptar e mudou de ofício.

“Aqueles que deveriam ter sido anos de sol, de azul e alegria, eu passei debaixo da terra, sob bombas e metralhadoras. Senti que o único caminho era o da objetividade e da racionalidade. Sentia que o mundo podia ser salvo, que esta era a única tarefa digna de ser vivida. Entrei na resistência, com o partido Comunista clandestino.”

Nessa época, Lina chefiou uma revista, mas sua atuação política custou seu emprego após o fim da guerra. Junto com seu marido, o crítico de arte Pietro Maria Bardi, ela decidiu se mudar para o Brasil em 1946 e se afastar da ruína da Europa.

A paixão de Lina pelo Brasil foi imediata. Ela viu um novo horizonte se abrir com a arquitetura e a cultura popular. Tornou-se personagem da vida intelectual do país. Animado pela curadoria do casal na primeira exposição do Museu de Arte de São Paulo, em 1947, Assis Chateaubriand chamou Lina Bo Bardi para construção e direção do MASP. Sobre o projeto, ela disse “não procurei a beleza, e sim a liberdade. Os intelectuais não gostaram, mas o povo gostou.”

Sem medo de experimentar, nos anos 70 realizou intenso trabalho como cenógrafa. Faria ainda outro espaço cultural em Salvador, o Museu de Arte Moderna. De volta a São Paulo, fez o SESC Pompeia. Faleceu em 1992, durante um projeto para a Prefeitura de São Paulo.

Para Lina Bo Bardi a arquitetura não era somente uma utopia. “No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Alguma coisa que nada tem a ver com arte, uma espécie de aliança entre dever e prática científica.”


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